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Atualmente, a Netflix é a maior empresa do segmento de streaming em todo o mundo. Segundo as informações presentes no Media Center da companhia estadunidense, ela possui 183 milhões de assinaturas pagas nos 190 países do mundo nos quais o seu serviço está disponível. Entretanto, as coisas nem sempre foram dessa maneira e a Netflix nem sempre foi uma plataforma de streaming. A seguir você acompanha alguns mistérios e curiosidades que envolvem essa empresa que tanto amamos.
A “mitologia” da criação
Na verdade, toda a história por trás da empresa é bastante interessante. Embora muitas pessoas ainda acreditem na versão “fanfic” sobre a criação do serviço, as coisas não começaram a acontecer a partir da revolta de Reed Hastings, o todo poderoso da Netflix, por precisar pagar 40 dólares de multa após se atrasar para devolver um filme na locadora.
Essa versão dos fatos foi cariada para desenvolver uma mitologia em volta da Netflix, algo que deu certo. Entretanto, com tantos feitos no currículo, a empresa não precisa mais sustentar a história citada – em especial quando a verdadeira é igualmente interessante.
A verdadeira história: o encontro de Hastings e Randolph
De encontro a isso, é possível afirmar que a Netflix surgiu a partir da parceria entre Reed Hastings e Marc Randolph, ainda no ano de 1997. Sim, são 23 anos de trajetória até aqui.
A dupla de criadores da companhia se conheceu alguns anos antes, quando Reed ainda era dono de outra empresa, a Atria Sotftware, e Randolph assumiu um cargo no departamento de marketing. A partir das suas conversas, os dois conseguiram perceber que tinham uma série de coisas em comum.
Uma dessas coisas, porém, foi crucial para que a ideia do streaming começasse a sua “fase de gestação”: tanto Reed quanto Marc sentiam uma admiração profunda pelo modelo de negócios da Amazon na internet, que havia sido implementado relativamente há pouco tempo no contexto em questão. Devido a essa admiração, eles começaram a pensar sobre algo que também pudessem vender online.
Como nós estamos falando dos anos 1990 e a banda larga ainda não era uma realidade para muitas pessoas, o setor escolhido pela dupla foi a locação de filmes. Só para que vocês tenham uma ideia de como o mundo era diferente nessa época, esse ramo de negócios chegou a movimentar cerca de 16 bilhões de dólares somente nos Estados Unidos na década em questão.
O começo de tudo: aluguéis de DVDs online
Após tomarem a decisão citada, Reed Hastings e Marc Randolph optaram por seguir por um rumo até então inovador nessa indústria: o mercado de DVDs. Eles eram perfeitos para uma companhia iniciante devido ao fato de serem leves, resistentes e poderem ser enviados dentro de um envelope.
O negócio funcionaria da seguinte forma: os interessados entrariam no site da empresa, escolheriam um filme do catálogo e o DVD seria enviado pelos correios. Entretanto, antes de chegar nessa parte, o usuário precisaria se tornar um assinante do serviço, que também lhe daria o direito de ficar com o disco enviado por quanto tempo ele desejasse. Para deixar as coisas ainda mais atrativas para os seus assinantes, Hastings e Randolph conseguiram fazer com que essa operação custasse somente 50 centavos de dólar referentes ao frete e retiraram cobranças como multas por atraso (talvez venha daí toda a mitologia citada anteriormente).
Uma vez que todo o planejamento relativo ao funcionamento ficou pronto, a dupla começou a trabalhar, ainda no dia 29 de agosto de 1997, em Scotts Valley, uma cidade de menos de 10 mil habitantes. De início, eles pretendiam adquirir 925 títulos e contratar 30 funcionários a partir da verba obtida por meio de um financiamento e do dinheiro do próprio Reed, que havia vendido a sua empresa anterior.
Entretanto, é possível afirmar que somente em 1998 as operações com o público tiveram início, a partir do lançamento do site pelo qual poderia ser feita a solicitação dos DVDs. O site representou uma verdadeira revolução, visto que deu a oportunidade de as pessoas não mais precisarem ir até locadoras pra consumir os filmes que desejavam assistir.
O sucesso bate à porta – mas não por muito tempo
A ideia de Reed e Marc deu tão certo que já no ano seguinte a Netflix recebeu o aporte de 30 milhões de dólares por parte de investidores. Poucos meses depois, o formato de assinatura ficou disponível para os usuários da forma com o conhecemos atualmente.
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Apesar de todo esse sucesso, os fundadores da empresa ainda não achavam que o seu empreendimento havia atingido o máximo de seu potencial. Portanto, eles tomaram a decisão de vende-la e fizeram uma oferta à Blockbuster que, no contexto em questão, era a maior rede de videolocadoras dos Estados Unidos. Entretanto, ela não teve interesse em comprar a Netflix.
Após a rejeição, a concorrência para a Netflix se tornou ainda mais complexa nos Estados Unidos devido à entrada da Redbox no mercado de aluguéis. Assim, no ano de 2001, a empresa foi aberta para acionistas em uma tentativa de manter as contas balanceadas. Inicialmente, as ações foram estipuladas em 15 dólares e cerca de 5.5 milhões delas foram emitidas.
A tragédia que impulsionou a Netflix
Foi exatamente a partir desse ponto que a empresa conseguiu ter um impulso inesperado. O que torna toda a situação ainda mais atípica é que esse súbito crescimento ocorreu logo após o 11 de setembro de 2001. O medo dos estadunidenses de deixar as suas residências após o a atendado ao World Trade Center acabou fazendo com que os serviços de aluguel disparassem. Apesar disso, as contas ainda não fechavam e a empresa estava no vermelho.
O ano de 2003 pode ser considerado o primeiro que a Netflix não terminou “negativada” desde a sua criação. A estabilidade parecia, finalmente, ter chegado. Entretanto, em 2004 uma reviravolta inesperada aconteceu na empresa: Marc Randolph decidiu deixa-la e até hoje os motivos para isso permanecem um mistério.
Na ocasião citada, ele apenas disse que esse era o melhor movimento para a sua vida. A partir desse ponto, Reed Hastings se tornou o único CEO da empresa que, em 2006, deu os seus primeiros passos para se tornar a gigante que é atualmente.
Os primeiros passos na distribuição de conteúdo
No ano citado anteriormente, a Netflix começou a manifestar o seu interesse por distribuir conteúdo e também pela produção de originais. Por meio da criação do segmento Red Envelope Enterteinment isso começou a acontecer, mas não da forma como conhecimentos atualmente, visto que a Red Envelope não teve muita longevidade e encerrou as suas atividades apenas dois anos depois, em 2008.
Foi a partir do ano citado que a plataforma de streaming começou a realizar uma série de parcerias para começar a construir o catálogo que tem atualmente e também para se tornar menos dependente de mídias físicas.
Em 2008, a Netflix realizou uma parceira com o canal estadunidense Starz e dois anos depois com a Paramount, a LionsGate e a MGM. Posteriormente, em 2012, uma nova parceria foi feita com a Fox e, por fim, em 2013, a Dreamworks também se tornou uma parceira do serviço de streaming.
O conteúdo original e a grande virada
A partir desse ponto todo mundo sabe o que aconteceu: a produção de conteúdo original, em especial as séries, que tornaram a Netflix cada vez mais popular. A primeira delas foi House of Cards, drama político lançado ainda no primeiro semestre de 2013.
Atualmente, o serviço tem investido cada vez mais nesse segmento, visto que grande parte das emissoras estadunidenses estão criando seus próprios serviços de streaming – como no caso do Peacock, recentemente lançado pela gigante NBC. Portanto, uma produção própria é uma forma de não depender tanto da distribuição de produtos de terceiros (ainda que eles se façam presentes no catálogo até o dias de hoje)
Indo além do sucesso de público alcançado pelos originais, os números atingidos pela Netflix também mostram que Reed Hastings e Marc Randolph estavam certos em persistir na ideia, ainda que ela tenha dado prejuízos por algum tempo. Por exemplo, uma pesquisa recente, realizada entre os anos de 2010 e 2014, mostrou que a presença da Netflix nos lares dos Estados Unidos fez com que as assinaturas de TV a cabo no país sofressem uma queda de 8%.
A revolução do entretenimento
Isso representou uma revolução também na forma como as séries são consumidas e mais recentemente teve impacto em premiações grandes e respeitadas, como o Oscar e o Globo de Ouro. Ainda em 2018, ocasião em que Roma foi lançado na Netflix, muito se discutiu a respeito da inclusão de produções voltadas para o streaming nesse tipo de prêmio.
Só para você compreender a extensão da discussão, Steven Spilbergh chegou a se pronunciar sobre o assunto, afirmando que tais títulos não deveriam concorrer ao Oscar, visto que se aproximam mais da TV devido à forma como são consumidos: em casa e com uma experiência menos imersiva do que no ambiente de um cinema.
A chave do sucesso da Netflix
Assim, mesmo que as pessoas sempre digam que o “streaming X” entrou no mercado para se tornar um competidor direto da Netflix e, quem sabe, tirar o seu trono, as promessas ainda não se cumpriram porque nenhuma plataforma conseguiu unir conteúdo, praticidade e um bom funcionamento de forma tão eficiente quanto a citada anteriormente. E olha que várias empresas grandes tentaram e continuam tentando.
Só para vocês entenderem a dificuldade, é válido citar que o diferencial da Netflix é olhar sempre para o futuro. De acordo com Neil Hunt, o chefe de produtos da empresa, o atual modelo apresentado para a plataforma é aquele que se espera que as emissoras de TV estejam adotando em 2025. Ou seja: o mundo dos streamings já tem a sua rainha eleita pelos próximos cinco anos e as outras que lutem para conseguir chegar lá – ou quase.
Imagem destacada: ajuntament.barcelona
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